O sofrimento no trabalho segundo Christophe Dejours

quarta-feira, 24/04/13 16:00

*Arthur Lobato

 

Segundo Dejours, as contradições da relação entre capital e trabalho são os motivos que conduzem ao adoecer do trabalhador e ao sofrimento físico, psíquico e emocional. A dignidade humana, portanto, tem que ser o valor supremo no mundo do trabalho e para isso é necessário resistir e vencer as dificuldades do trabalho, mas nem todos conseguem, daí o adoecer, o sofrimento e o fracasso.

 

Dejours considera que as estratégias de defesa podem ser conscientes ou inconscientes, mas representam em ambos os casos uma recusa de sofrer, uma elaboração psíquica sobre o que faz sofrer aprofundando a contradição entre a realidade vivenciada pelo trabalhador e a organização do trabalho, já que neste “real do trabalho” a vivencia é de fracasso e sofrimento. Isto se manifesta no burn-out, que é o sofrimento de quem se envolve muito com o trabalho, ou na insônia e sonhos com o trabalho. Curiosamente o especialista afirma que “muitas vezes é preciso fracassar para se ter boas ideias”, ou seja, aprender com o erro, para poder resistir e vencer as dificuldades do trabalho, mas isso nem todos conseguem, daí o adoecer, o sofrimento, o fracasso.

 

“Trabalhar é sofrer resistências” e o trabalhador se engaja nos esforços, em toda sua subjetividade, e nos relacionamentos com os colegas, portanto, afirma Dejours, “falar ao colega é um modo de nos reapropriarmos de nossa inteligência”, pois somos seres relacionais, o outro constrói minha subjetividade, e tanto no amor como no trabalho a construção da identidade é através do reconhecimento. Entretanto, como evitar sofrimento do trabalhador e ao mesmo tempo manter as regras rígidas da organização do trabalho?

 

O trabalhador não é uma máquina, portanto, precisa interpretar as ordens e não apenas obedecer regras e normas. O perigo é a interpretação individual, que pode causar riscos à segurança, por isso deve haver este espaço para falar do trabalho e discutir as contradições entre a teoria e a prática. Só assim se chega a uma arbitragem sobre as deliberações e opiniões dos trabalhadores para adaptar a norma à experiência do trabalhador.

 

No SINJUS-MG, a comissão de combate ao Assédio Moral e a todo tipo de violência laboral, da qual participo como coordenador, percebe claramente que muitos casos que levam ao adoecer do trabalhador estão no conflito, quando o superior hierárquico não aceita o diálogo e usa da hierarquia para práticas autoritárias, negando o saber do trabalhador, e muitas vezes a pratica do servidor agiliza o processo produtivo, mas, pela recusa ao diálogo, este servidor é perseguido pois até hoje a instituição TJMG continua com o autoritarismo como forma de domínio sobre os servidores, não se importando com as consequências para a saúde do trabalhador.

 

Arthur Lobato

É psicólogo da área de saúde do trabalhador. Integra a equipe da Comissão de Assédio Moral do SINJUS-MG. Participou de Congressos Internacionais sobre o tema no Brasil, Argentina e México. Sócio colaborador da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).

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