Trabalhar em casa: a captura da subjetividade do trabalhador

terça-feira, 31/05/16 18:00

*por Arthur Lobato

 

O trabalho no mundo globalizado apresenta três características principais, seja na iniciativa privada ou no serviço público: o uso da tecnologia para acelerar o ritmo em busca de mais produtividade e metas que devem ser batidas constantemente. Esses três elementos, tecnologia, metas e produtividade, são a base do capitalismo. Adam Smith, no século XVIII em seu livro “A riqueza das Nações” citou a tecnologia e a produtividade como essenciais ao desenvolvimento e lucratividade no capitalismo, afinal, foi a tecnologia das máquinas movidas a vapor e a fiadeira, que movimentou locomotivas e fábricas, gerando mais produtividade e lucro na chamada Primeira Revolução Industrial.   

A produtividade, dogma do modo de produção capitalista, pode ser conseguida pela aceleração do ritmo de trabalho, pela tecnologia, pela agilidade ou capacidade física/psíquica dos envolvidos no trabalho, pela captura da subjetividade do trabalhador pela empresa/instituição ou pelo recurso de obrigar o trabalhador fazer horas extras e ser multifuncional. 

A captura da subjetividade do trabalhador, segundo Ricardo Antunes[1], “é uma forma de controle, e uma organização do trabalho capaz de se apropriar ainda mais efetivamente do intelecto do trabalho, na sua dimensão cognitiva”, ou seja, o que seria um problema da empresa torna-se um problema para o trabalhador resolver, pois ele “é a empresa”.  

Segundo Giovanni Alves [2], o trabalhador é encorajado a pensar pro-ativamente e a encontrar soluções antes que o problema aconteça. O trabalhador é obrigado a pensar muito mais, mas colocando a inteligência humana a serviço do capital. Alves afirma em seu livro “Trabalho e Subjetividade” que a captura da subjetividade do trabalho pelo capital “é a gestão do trabalho vivo e da força de trabalho”. O mesmo autor, citando Marx, afirma que “com as redes de informação tornou-se possível estar junto à distância”. O trabalhador social ou o trabalhador combinado, por meio das novas tecnologias de informação e comunicação, não apenas estendem (ou estreitam) o mesmo espaço/tempo, mas podem virtualmente suprimi-lo com a constituição de um novo local de cooperação complexa, o ciber espaço.  

Portanto, estas já são algumas características do trabalho à distância: uso da tecnologia, o trabalhador produzindo distante do local de trabalho, mas integrado ao processo produtivo no ciber espaço. Giovanni Alves afirma também que os investimentos em tecnologia, ciência e infraestrutura social “apresentam-se como um método, empregado pelo capital, para mediante o aumento de sua força produtiva explorá-lo mais lucrativamente, ou seja, a tecnologia vem para explorar ainda mais o trabalhador”. 

Assim, a captura da subjetividade se dá por meio da coerção ou do consentimento, da manipulação de valores fetiche (trabalhar em casa), mas como afirma Ricardo Antunes, o sentido da captura da subjetividade é traduzido na figura do inspetor interior que perscruta com seu olhar as tarefas do trabalho de si e dos outros. O operário ou empregado torna-se patrão de si mesmo e dos outros, através de um corpo útil, produtivo e submisso conforme constatado por Alves. 

Um exemplo atual, no TJMG, desta tentativa da captura da subjetividade do trabalhador é o home office, ou tele trabalho (trabalho à distância), ou seja, trabalhar em casa. À primeira vista é uma proposta sedutora, afinal, quem não quer ficar em casa trabalhando, sem ter que enfrentar o trânsito, colegas chatos, chefes insuportáveis, entre outros fatores que geram insatisfação no trabalho? Mas como o canto das sereias que nas lendas gregas enfeitiçavam os marinheiros com seu canto, levando os navios ao naufrágio com o choque nas rochas, o teletrabalho neste aspecto é sedutor e ao mesmo tempo perigoso, pois o trabalhador seduzido por esta proposta, também pode naufragar em sua ilusão. Não percebe os aspectos negativos desta mudança no modo de trabalhar. 

A diretoria do SINJUS-MG entende que o teletrabalho possui aspectos positivos e negativos, mas quem vai decidir é o servidor, e, para discutir esse tema – os prós e os contras –, convidamos os servidores para uma Roda de Conversa nesta quinta-feira, 2/6, conforme matéria publicada no site www.sinjus.com.br e artigo de Jonas Araújo. 

Afinal, é você, servidor e servidora, o maior interessado e usuário, ou não, desta nova modalidade de trabalho. O SINJUS quer simplesmente abrir o debate para que o teletrabalho não seja mais uma fonte de sofrimento dos servidores. Não podemos esquecer, citando Giovanni Alves, que “a verdade da ideologia é mascarar as contradições sociais”. 

O teletrabalho será o tema da próxima “Roda de Conversa”, realizada pelo Núcleo de Saúde do SINJUS-MG, no dia 2/6, com o psicólogo Arthur Lobato, que será o facilitador. Para dar a oportunidade a todos que quiserem participar, serão duas turmas: uma na parte da manhã, de 10h às 12h e a outra à tarde, de 15h às 17h. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas pelo telefone (31) 3213-5247. O SINJUS vai emitir certificado de participação que vale pontos para a Promoção Vertical. 

*Arthur lobato é Psicólogo/Saúde do trabalhador



[1]            Ricardo Antunes é um dos principais nomes da Sociologia do Trabalho no Brasil. Professor titular de Sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp), Antunes é coordenador da coleção "Mundo do trabalho", da Boitempo.

[2]            Giovanni Alves é doutor em ciências sociais pela Unicamp, livre-docente em sociologia e professor da Unesp, campus de Marília. É pesquisador do CNPq com bolsa-produtividade em pesquisa e coordenador da Rede de Estudos do Trabalho (RET), do Projeto Tela Crítica 

 

Arthur Lobato

É psicólogo da área de saúde do trabalhador. Integra a equipe da Comissão de Assédio Moral do SINJUS-MG. Participou de Congressos Internacionais sobre o tema no Brasil, Argentina e México. Sócio colaborador da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).

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