SINJUS ANTIRRACISTA

Seminário discute dever de reparação moral e econômica por parte do Estado aos povos negros

segunda-feira, 13/11/23 21:54

Nos dias 10 e 11 de novembro, os debates sobre as responsabilidades do Estado brasileiro em relação ao tráfico de africanos, à escravidão e às diversas violências dirigidas a negras e negros pós-escravidão no país foram destaque no seminário “Reparações: o caminho para a democracia no Brasil”, organizado pelo Coletivo Minas Pró-Reparações em parceria com o SINJUS-MG no Auditório Máximo da Faculdade de Direito da UFMG. O objetivo do evento foi explorar as origens e os impactos das injustiças históricas, além de construir estratégias para os próximos passos da luta por reparações.

A programação do seminário incluiu palestras e debates com especialistas, sindicalistas e representantes de movimentos sociais. Dentre os temas em destaque estiveram a escravidão, a discriminação racial e de gênero e as consequências socioeconômicas dessas violências ao longo dos séculos, as quais perduram até hoje.

“A participação do SINJUS neste seminário que discute as reparações é uma oportunidade de o Sindicato reafirmar o seu compromisso com os valores de justiça, igualdade e dignidade para todos. O Judiciário é um Poder em que o racismo é muito enraizado, por isso estamos engajados, juntamente com a Fenajud, para ajudar a mudar essa realidade tanto em relação ao quadro de servidores e magistrados, mas também em relação às decisões racistas que seguem sendo proferidas. Nós estamos organizados e não vamos aceitar retrocessos na luta antirracista”, afirma o coordenador-geral do SINJUS, Alexandre Pires.

Coordenador-geral do SINJUS, Alexandre Pires, durante a abertura do Seminário

Antes de iniciar as discussões, ocorreu um ritual de abertura com cânticos e ornamentos da cultura africana. Em seguida, a primeira mesa discutiu o histórico do debate sobre reparações, e seus participantes destacaram a necessidade de reconhecer os eventos traumáticos da escravidão e também do período pós-escravidão no qual negras e negros seguem sendo discriminados e perseguidos sem medidas de compensação pelas violências a que foram submetidos. O painel reuniu Eustáquio Rodrigues, Diva Moreira, Humberto Adami, Alexandre Santos, com a mediação de Alexandre Pires.

Dando sequência às intensas discussões do seminário, a Mesa 2 focou na interseção entre tributação e reparação, com a participação de Eliane Barbosa e Cristiano Rodrigues, e a mediação de Janivaldo Ribeiro Nunes. Nas discussões, foi ressaltado que o Estado brasileiro tem uma dívida moral que precisa ser reconhecida e uma dívida material que deve ser sanada por meio de recursos financeiros (como alíquotas menores de tributação) e serviços voltados para a população negra.

A terceira mesa, intitulada “Acúmulo de Debates sobre Reparação Brasil-Angola”, trouxe uma perspectiva internacional para o evento. Com a participação de Tânia Carvalho, Sérgio Pererê, e a mediação de Yone Maria Gonzaga, a discussão centrou-se nos impactos das injustiças históricas e nas possíveis formas de cooperação entre os Estados com vista à reparação.

“Somos independentes, mas ainda precisamos de novas libertações, pois as relações comerciais entre nações são sempre desfavoráveis aos países africanos”, destacou a socióloga angolana Tânia de Carvalho, apontando que uma das possibilidades nas relações com o Brasil para a reparação com Angola pode se dar por meio de acordos comerciais, dispensa de vistos, entre outros.

“Tivemos um grande seminário marcado por diálogos profundos e reflexões sobre as injustiças históricas que foram impostas aos povos negros sem piedade e sem qualquer responsabilização dos escravocratas durante séculos. Esse é mais um passo na luta por uma igualdade efetiva em nosso país. Certamente, as discussões vão nortear a atuação das entidades e dos movimentos sociais na busca pela justiça e pela devida reparação”, ressalta o diretor de Assuntos Sociais, Culturais e de Saúde e membro do SINJUS Antirracista, Jonas Araújo.

Em seguida, Iêda Leal de Souza, Regla Toujaguez, Carlos Calazans e José Carlos Souza conduziram as discussões acerca de “Políticas de Reparações: o que se pode esperar do estado?”.  Na mesa foi relembrada a chacina de Unaí, que tinha como alvo principal um auditor do trabalho negro, mas que vitimou outros três trabalhadores que fiscalizavam a exploração de pessoas em fazendas. Foi abordada ainda a política de cotas em universidades e em concursos públicos e a necessidade de indenização em caso de mortes de negros por agentes do Estado. Clique aqui e veja a íntegra de todos os debates. 

Seminário também defendeu o respeito e a valorização da cultura africana

No dia 11 de novembro, os trabalhos começaram com a mesa “Filosofias Africanas: Tempos e Cultura Circular”, que trouxe uma perspectiva filosófica e cultural para o debate sobre reparação; Tânia Carvalho e Julvan Moreira de Oliveira participaram da discussão, com a mediação de Maria da Consolação.

Tânia Carvalho, novamente enriqueceu o evento com sua vivência e seu conhecimento acerca da africanidade; enquanto Julvan Moreira defendeu uma educação mais diversa no sistema de ensino, de modo a corrigir a deturpação do eurocentrismo e garantir a possibilidade de ambientes de aprendizagem mais inclusivos com conhecimentos e saberes das culturas tradicionais.

Na sexta mesa, intitulada “Conexão Brasil-África”, as discussões tiveram a contribuição de Hélio Santos, Samora N’zinga, Carem Abreu, Evandro Passos e Júnia Bertolino, com a mediação de Cida Nunes. Entre os vários aspectos abordados, teve destaque a questão do neocolonialismo praticado por empresas multinacionais em vários países do continente africano, a necessidade de valorização das raízes negras, e o uso da cultura afro também como meio de influenciar o debate político.

“Foram fantásticos os dois dias de debate. Essa aliança dos sindicatos com a população negra é fundamental e tem que ser contínua. Hoje a gente tem uma juventude negra atuando em várias áreas, temos o empreendedorismo negro, temos os intelectuais negros. Assim, a despeito do racismo institucional e estrutural do Brasil, estamos conseguindo avançar”, ressalta a jornalista e ativista Diva Moreira.

Ao longo de todo o evento, houve espaço para diversas manifestações culturais por meio de apresentações musicais, cânticos, danças e do bazar de roupas, adereços e acessórios. Ao final, os participantes ajudaram a construir a “Carta de Belo Horizonte: o caminho para a democracia no Brasil”, que agregou conhecimentos e reflexões compartilhados durante o seminário e que vai fundamentar as próximas ações de luta das entidades e dos movimentos sociais.

Últimas notícias

ver mais
Arte gráfica nas cores vermelho, preto e branco com o título “Comunicado de Recesso”. RECESSO SEDE DO SINJUS ESTARÁ FECHADA DURANTE FERIADO DO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA quarta-feira, 19/11/25 18:33 A Direção do SINJUS-MG informa que a sede da entidade estará fechada na quinta ...
Cleonice Amorim de Paula, mulher negra integrante do SINJUS Antirracista, participa de uma mesa de debate sentada no palco, segurando um microfone enquanto observa a projeção de uma apresentação. Ao lado dela, um homem também participa da conversa, sentado com uma prancheta nas mãos. Ambos estão em cadeiras pretas, com uma mesa de centro entre eles e outro pequeno móvel com um tecido amarelo ao lado. Justiça Racial DEBATE NA FUMEC ABORDA DIREITO ANTIRRACISTA E IMPORTÂNCIA DA LEI DE COTAS quarta-feira, 19/11/25 17:08 O SINJUS-MG marcou presença na 2ª edição do Novembro da Consciência Negra da Universidade ...
Imagem Acessível: A imagem mostra duas pessoas em reunião sobre finanças, com gráficos, calculadora e pilhas de moedas sobre a mesa. No canto inferior esquerdo, aparece o logo da consultoria ‘Seu Rico Dinheiro’, com a imagem de um cofrinho. Sobre a imagem, lê-se o texto: ‘Transforme sua relação com o dinheiro com a nova parceria do SINJUS’. Educação financeira Transforme sua relação com o dinheiro com a nova parceria do SINJUS quarta-feira, 19/11/25 14:24 A educação e o controle financeiro são fundamentais para garantir mais tranquilidade e equilíbrio ...

Convênios

ver mais
Seu Rico Dinheiro Consultoria financeira Santa Lúcia . Belo Horizonte (31) 99776-6144 instagram.com/seuricodinheiro Até 100% ver mais
Dentista Ana Carolina Carvalho Odontologia Castelo . Belo Horizonte (31) 993885266 Até 15% ver mais
ZOE Cuidados Especializados Clínicas - Especialidades Médicas Centro . Belo Horizonte (31) 98838-0125 (21) 99979-7077 (12) 98102-9782 Até 10% ver mais
Rating A Consultoria Financeira Seguro de Veículos Santo Agostinho . BH (31) 99852-3212 www.ratinga.com.br 15% a 40% ver mais
Top Fale conosco