O que é?

A definição mais utilizada para o feminismo o coloca como o conjunto de movimentos políticos e sociais que luta pela igualdade e equidade de gênero, para que mulheres e homens tenham os mesmos direitos e oportunidades na sociedade.

No entanto, se você for se aproximar ainda mais da teoria, encontrará autoras que possuem diferentes definições para o termo e opiniões divergentes sobre o início, ou origem, do feminismo.

No livro “O que é feminismo?”, das autoras Branca Moreira Alves e Jacqueline Pitanguy, elas trazem justamente esse ponto de vista, de que é complexo trazer uma definição, porque o feminismo surge de um processo que tem raízes no passado e que segue sendo construído no cotidiano. Ou seja, não tem um ponto pré-determinado de chegada e, por ser um processo de transformação do papel da mulher na sociedade, contém muitos avanços, recuos e até contradições.

Mas, se por um lado existem diferentes definições do que é o feminismo, vale destacar o que não é o feminismo. Por exemplo, igualar feminismo ao machismo ou dizer que feminismo seria a defesa da superioridade das mulheres são conceitos totalmente equivocados. Não é sobre isso o feminismo.

O feminismo luta justamente pela igualdade e equidade para combater as injustiças provocadas por uma sociedade fundada em princípios patriarcais. Existem várias bandeiras levantadas pelo feminismo, como o combate à violência contra a mulher, a busca pela igualdade salarial entre gêneros, o acesso a métodos contraceptivos gratuitos, o direito à amamentação em locais públicos, uma maior representatividade feminina na política e várias outras causas.

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Para quem é?

Quem diz que o feminismo é só para mulheres ainda não entendeu nada. O feminismo é uma luta das mulheres, mas que precisa dos homens como aliados. O espaço deles dentro do movimento é enfrentando o machismo nas situações do cotidiano, promovendo a igualdade no trabalho, tendo práticas que contribuam para a vida das mulheres e sempre respeitando a liderança delas nesta luta.

Sem falar que, um movimento que prega a igualdade de direitos traz, sim, muitos benefícios aos homens. Eles também são impactados pelo modelo patriarcal e pela masculinidade tóxica. Muitos cresceram com a ideia de que a mulher é que deve assumir o protagonismo na criação dos filhos; de que não podem chorar e fracassar e de que a delicadeza e o afeto não lhes pertencem. O feminismo pode libertar os homens dessas amarras, afinal, propõe uma sociedade em que, independente de ser pai ou mãe, todos são essencialmente cuidadores dos filhos e todos são seres humanos que têm sentimentos.


Vertentes

O feminismo não é um movimento único. Como qualquer grupo de pessoas, as mulheres feministas também são diferentes, pensam diferente, agem diferente e têm visões de mundo diferentes. A história do feminismo nos mostra isso deforma clara: a agenda feminista não é uniforme ou tem apenas uma linha teórica, ela é dividida em vertentes que abrangem todo tipo de feminista.

Cada vertente tem um entendimento diferente sobre a origem da opressão da mulher e sobre o que precisa ser feito para acabar com ela. Mesmo sendo diferentes, as vertentes podem sim ter pontos em comum. De maneira geral, todas elas se referem a questões imediatas, como a luta contra a violência doméstica, direitos sexuais e direitos reprodutivos, por exemplo.

Feminismo negro

O movimento feminista negro nasceu para atender a necessidade de representatividade de mulheres negras dentro do feminismo. Sua principal sustentação é que a experiência das mulheres negras dá origem a uma compreensão particular de sua posição em relação ao sexismo, à opressão de classe e ao racismo.

Um dos maiores focos do movimento é desenvolver teorias que poderiam abordar adequadamente a maneira como raça, gênero e classe são interligados nas vidas das mulheres. Assim, medidas contra a discriminação racista, sexista e classista podem ser tomadas dentro de um único movimento. Hoje é uma das linhas feministas mais proeminentes.

Feminismo radical

O feminismo radical vê o controle dos homens em todos os cenários da vida das mulheres. Para essa vertente, o sexismo é a grande arma opressora da mulher e, graças a ele, os homens mantêm suas bases de poder. Para as radfem, como são conhecidas as feministas radicais, o movimento feminista é feito por mulheres e para mulheres e apenas isso. Aqui, o objetivo não é chegar a uma igualdade de gêneros, mas romper com toda e qualquer barreira do patriarcado por completo.

Além disso, esta é uma vertente que polemiza na questão da inclusão da mulher trans. Há feministas radicais que não entendem mulheres trans como parte do movimento e consideram que elas apenas reforçam a opressão de gênero. Como se mulheres trans fossem vozes masculinas com a pretensão de falar pelas mulheres, sem serem mulheres. Porém, há feministas radicais que são a favor de mulheres trans no movimento.

Feminismo liberal

O feminismo liberal compactua com a visão capitalista do mundo. Essa vertente pode até reconhecer as desigualdades sociais, mas ele não é anticapitalista. Isso porque outras vertentes enxergam no capitalismo uma ferramenta de opressão. Isso não acontece aqui.

Essa linha surgiu no século XIX, durante a Revolução Francesa e teve como principal fato a publicação do livro “Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher”, da escritora inglesa Mary Wollstonecraft (1759-1797). Ela foca em colocar homens e mulheres lado a lado na construção da sociedade igualitária, sem que para isso haja uma grande transformação estrutural. A ideia aqui é que a mulher assuma, aos poucos e progressivamente, posições de poder.

O feminismo liberal também coloca a mulher como responsável pela sua própria transformação. É uma visão individualista de enxergar o movimento que bebe na fonte do Iluminismo ao enxergar na própria mulher o seu maior agente de transformação.

Feminismo marxista

Essa vertente é vista também como aquela que mais se alinha ao socialismo. Ela questiona o papel do capitalismo e da propriedade privada na opressão das mulheres. Para as feministas marxistas, esses são os grandes problemas na opressão das mulheres. Aqui fica entendido que a estrutura econômica é uma das grandes responsáveis por colocar a mulher como figura socialmente subjugada.

Essa vertente vê na criação da propriedade privada o ponto de partida da subordinação de mulheres aos homens. O feminismo marxista também levanta a questão do trabalho doméstico — em sua maior parte exercido por mulheres que gerem o lar sem remuneração — e como ele não é reconhecido dentro do sistema capitalista. Na verdade, o trabalho doméstico é invisibilizado e romantizado, mas apenas reforça uma estrutura patriarcal.

Feminismo anarquista

A vertente conhecida como anarcofeminismo não acredita nas instituições como objetos ou meios de transformação. Elas não veem na elaboração de leis ou no poder do voto uma alternativa para dar voz às mulheres. Essas feministas acreditam em uma sociedade sem governos em que homens e mulheres possam viver na sua integridade e sem colocá-las à margem.

O feminismo anarquista acredita na ausência do Estado e que qualquer forma de poder deve ser extinta.