Depressão e absenteísmo no trabalho

sexta-feira, 18/11/16 15:00

*por Arthur Lobato

Alguns conceitos referentes à saúde do trabalhador já se tornaram assuntos corriqueiros em conversas e a depressão é um tema que todos comentam. Segundo a OMS — Organização Mundial da Saúde — a depressão é o mal do século. Os estudos referentes à saúde mental têm fornecido dados importantes para entender esse fenômeno que pode acometer qualquer um de nós. Hoje, é inegável o fator trabalho como componente de análise entre as possíveis causas de depressão, e quando falamos de trabalho, falamos do empregado e do desempregado, pois não conseguir trabalho em nossa sociedade de consumo é sinal de fracasso e exclusão, consequentemente um fator importante na depressão.

Se o trabalhador empregado vive a angústia de poder ficar desempregado, o servidor público concursado, com estabilidade, teoricamente, deveria apresentar um quadro de maior sanidade mental e emocional, pois seu emprego está garantido. Mas, não é isso que aponta o estudo de absenteísmo realizado pelo TJMG. O absenteísmo — a ausência do funcionário no ambiente de trabalho –, ou o número de horas de trabalho perdidas, por transtorno mental e emocional, ocupam o primeiro lugar nos motivos de afastamento, seguido pelas doenças osteomusculares (LER – DORT).

Segundo Bruno Farah, psicólogo do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, e Doutor em Teoria Psicanalítica (UFRJ/Université Denis Diderot – Paris 7), é preciso interferir na contramão dos mecanismos de gestão que individualizam o trabalho, que  criam a competição extremada, produzem uma autonomia enganosa, deterioram as possibilidades de um trabalho comum. Para ele, a saúde no trabalho deve estar no centro da gestão do trabalho. “A gestão precisa ver a abundância de competências e não sua carência, deve ser capaz de promover uma autonomia compartilhada e uma interdependência entre sujeitos e não a enganosa autonomia prescrita de uma independência solitária e impotente”.

A OMS define depressão como um transtorno mental comum, caracterizado por tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima, além de distúrbios do sono ou do apetite. Também há a sensação de cansaço e falta de concentração. Estimativas da OMS apontam que em 2020, a depressão será a maior causa de afastamento nas empresas do mundo inteiro.  A depressão tornou-se um problema social, “o mal do século XXI”.

Bruno Farah em seu livro “A Depressão no Ambiente de Trabalho: prevenção e gestão de pessoas”, correlaciona a depressão como sintoma social e analisa como o poder paradoxal de um modelo de gestão, compreendido por Gaujulec, como doença social, e por Ehrenberg que analisa a depressão como doença da autonomia. Bruno analisa  a depressão e sua relação com o modelo de gestão. Importante é sua constatação que o “enfrentamento do problema precisa dar-se na ordem do coletivo do trabalho”,  já que “ninguém evolui – instituição, empresa ou pessoa – sem a participação coletiva” afirma o William Douglas, juiz federal,  e que a “saúde no trabalho, deve estar no centro da gestão do trabalho conclui Bruno.

Segundo Bruno, a depressão apresenta os seguintes sintomas:

– Humor deprimido na maior parte do tempo;

– Interesse diminuído ou perda de prazer nas atividades diárias;

– Sensação de inutilidade ou culpa excessiva;

– Indecisão ou diminuição da capacidade de concentração;

– Fadiga ou falta de energia;

– Insônia ou sono excessivo;

– Agitação ou lentidão de movimentos;

– Perda ou ganho significativo de peso;

– Ideias recorrentes de morte ou suicídio.

Cinco destes sintomas, juntos, por mais de duas semanas, caracterizam o transtorno depressivo maior, mas, apenas um sintoma pode ser extremamente desagradável. Farah afirma que a depressão contemporânea deflagra um sofrimento relacionado a responsabilidade de si, uma doença da autonomia, onde prevalecem sentimentos de insuficiência (não consegui o suficiente) e vergonha por ter fracassado, por não ter dado conta. Assim, segundo o autor, “a responsabilidade e a vergonha são dois ingredientes centrais para entendermos o sofrimento manifesto na depressão”.

O SINJUS-MG está com uma enquete no site sobre alguns dos possíveis motivos do absenteísmo no TJMG. Participe e ajude o Sindicato na elaboração de uma política de prevenção à saúde em busca de um ambiente saudável de trabalho, onde as relações interpessoais tenham por base o respeito, a honra e a dignidade da pessoa humana. 

Farah, Bruno. A depressão no ambiente de trabalho: prevenção e gestão de pessoas: um estudo sobre as empresas contemporâneas a luz do Judiciário Federal. São Paulo: Ltr, 2016. Pág. 33.

 

*Arthur Lobato é psicólogo, Saúde do Trabalhador

 

Arthur Lobato

É psicólogo da área de saúde do trabalhador. Integra a equipe da Comissão de Assédio Moral do SINJUS-MG. Participou de Congressos Internacionais sobre o tema no Brasil, Argentina e México. Sócio colaborador da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).

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